Acho que quem não sabe lidar com timidez, sou eu.
Fico nessa tentativa desesperada de evitar um silêncio, que as vezes nem é constrangedor. Tento falar, ocupar o ar com sons e palavras, em vez de suportar o instante em que se ficam as falas mudas, que se dão por olhares e articulação desconecta e sem intenção, como a subida de uma mão ao rosto, ou um copo que vai a boca.
O terror vem justamente quando percebo e finalmente escuto as coisas que estou dizendo e não devia, as revelações que faço das minhas incertezas e pondo fim a qualquer mistério.
O mistério de uma mulher é algo difícil de se alcançar. É que para ser misteriosa, é preciso suportar a não revelação. E um de meus grandes ofícios, é o de revelar-me. As pessoas costumam dizer que eu sou exatamente o que passo na primeira impressão.
Acho que vem da infância, época de colégio. Quando antes mesmo de eu ter o direito de escolher quem queria vir a me tornar, já estava sendo definida pelo que os outros pensavam de mim. E como isso me matava um pouco! Devo ter decidido em algum momento, essa espécie de contrato vitalício com a vida, de jamais ser feita pelo que o outro deseja, alem do que realmente sou, posso e quero ser.
Acontece que agora eu já sei de mim. O que ainda falta aprender são esses pequenos limites que ninguém impõe, mas todo mundo sabe da sua existência.
Mas acho que é assim mesmo, me colocando nessas situações em que corro o risco de ser ridícula, e de ficar deslocada dentro de mim, que aprendo a viver.
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