Ela estava sentindo um vazio espaçoso, que inundava seu corpo. Junto dele, vinha uma dor rígida como um tumor localizado na alma.
Ela parou de reagir. Ficou morta por um tempo, e só no colo de sua mãe, encontrava uma posição confortável para viver.
Mas ela não vivia, e sobrevivia com enorme dificuldade. Era tanto contraste com os tempos de infância, meu deus!
Quando ela sentia uma mínima preguiça de viver, ia ao encontro da mãe, e como o alçar vôo delicado de um inseto, sentia qualquer angústia fugida pra longe daquele encontro. Mas hoje não. Hoje nem o útero externo de sua mãe, aquele colo quente e receptivo conseguia isolar a moça sofrida de suas dores.
Tudo passou a se tornar insuportável.
A vida vista da janela de casa lhe era fatal. O telefone tocando, mostrando a ela que pessoas se procuravam naquele momento, o cachorro latindo para qualquer movimento no corredor do prédio, e o próprio prédio em sí! Como a irritava! Era um objeto imóvel, feito de concreto e vigas, que tinha mais vida que ela; e sua mãe, coitada. Tudo que ela fazia soava como farpas no ouvido. Foi quando A recém mulher percebeu que culpava sua mãe por tudo. Porque foi ela quem permitiu e desejou seu nascimento no mundo, a parindo. Com essa autorização, a posicionou nesse lugar em que ela se encontrava. Sua própria mãe a traiu. Dava na infância uma vida dirigida, então enganosa para a filha. E agora a colocava no meio da savana da vida, correndo todos os riscos de um pequeno animal indefeso.
– Solta minha mão de mãe, e vá com o alçar do inseto, minha filha querida. Você agora vai ser parto do mundo. Ele é tua verdadeira mãe.